Contar histórias para crianças é tão importante para a sua formação que diversas pesquisas apontam para resultados surpreendentes dessa prática. Nos Estados Unidos pediatras passaram a receitar a narração de histórias e poesias até para bebês no útero! Professores precisam trabalhar o mergulho na magia das histórias com suas crianças.
Mas é preciso ser profissional ou ter esse dom?
Contar histórias é uma das artes da palavra.
Muitos contadores usam a própria experiência e intuição para transmitir o que viveram.
Outros buscam aprendizados para desenvolver sua arte. Leem muito, estudam a língua e, às vezes aprofundam-se nas técnicas de representação. Os atores que encenam histórias, o fazem com um texto formatado, independente do tipo de plateia presente. Já o contador precisa levar em conta a presença e a personalidade de sua audiência.
Apesar da carência na formação de alguns professores, podemos seguir alguns conselhos preciosos dos especialistas desse oficio, exercitar e desenvolver um jeito prazeroso e nosso de proporcionar vivências tão fundamentais para o universo infantil.
Vamos lá?
a. Escolha das histórias
Os livros e histórias sugeridos pelas crianças são um passo em direção a uma plateia interessada. Mas selecionar histórias que despertem a vontade de contar no contador é importante para o bom resultado final. Quando uma história se conecta com que vai conta-la ela passa a ser interiorizada e sentida como pertencente!
Para crianças menores, de 1 a 2 anos, ou para introduzir o grupo no mundo das histórias, é importante selecionar livros com histórias e ilustrações de boa qualidade. Histórias com textos que se repetem favorecem a compreensão. As crianças gostam especialmente de histórias de animais.
b. Conhecer para narrar
Às vezes temos que pegar um livro novo e contar de supetão para a turma, sem mesmo tê-lo lido ou folheado. Essa forma de contar histórias geralmente traz insegurança para quem conta e nem sempre prende a audiência. Mas acontece!
Se pudermos nos preparar para o momento, os resultados serão infinitamente melhores. Ler o livro ou história com antecedência, praticar a narração e pensar nos momentos chave ampliam a experiência. Vale também fazer uma possível “tradução” de partes complicadas para a faixa etária, programar cenas com a participação dos pequenos e organizar materiais que podem enriquecer a narrativa.
Não é necessário decorar a história. Aliás, quando disponível, o livro deve estar presente para se fazer ver e reconhecer pelas crianças. Ao final da narrativa, deixe os pequenos manusearem o livro e incentive conversas e o reconto por parte deles.
Após um período de ambientação com a leitura e contação, à medida que os pequenos vão ampliando o vocabulário e ficando mais entusiasmados e concentrados, as histórias selecionadas podem ser mais longas e complexas.
c. Espaço
A escolha e organização do espaço físico para o momento de ouvir histórias é relevante.
Algumas questões podem encaminhar a decisão:
- O local favorece o conforto das crianças?
- É possível falar e ser ouvido com clareza, sem a interferência de barulhos?
- O ambiente inspira? (disponibiliza almofadas, sofás, colchonetes, bebê conforto, a sombra de uma árvore, um pano para colher o grupo ao sentar-se sobre ele…).
Posicionar os pequenos em semicírculo pode favorecer as relações e os momentos de participação e diálogo durante o desenvolvimento da história. Outra dica é ficar próximo aos pequenos e posicionar-se distante de espelhos e janelas para não dividir atenções.
Todos devem poder visualizar o livro, quando utilizado, e as figuras. A capa, o título e o autor podem ser apresentados no início.
d. Materiais
A roupa do contador pode sinalizar o momento específico de entrar no universo das histórias. Escolher um chapéu, uma varinha de condão, uma capa, pode criar um ritual para marcar a atividade.
Pequenos objetos sonoros utilizados pelo contador também podem contribuir com pausas e momentos encantados, dramáticos etc.
Distribuir objetos sonoros para as crianças utilizarem em algumas cenas (imitar o barulho de tempestades, brigas, músicas de festas etc.) compartilha a atuação e estimula a atenção e a participação.
Bonecos, fantoches e dedoches também são acessórios interessantes.
e. Olhar
É muito importante olhar nos olhos de quem ouve as histórias, valorizando o grupo e cada um individualmente. É esse olhar que captura a audiência e capta os sinais de como a narração está sendo recebida.
Quando utilizar bonecos e fantoches, eles também precisam “olhar” para a audiência.
f. Voz, Gestos e Expressões
A dica importante é ser bem claro ao pronunciar as palavras. Pensar também no ritmo da contação. Se for muito lento e com pausas prolongadas a audiência se dispersa. Se for muito rápido, especialmente para os menores, as crianças não conseguem acompanhar o enredo.
Por outro lado, algumas passagens especiais da história podem ser narradas mais lentamente, com certa dramatização, gestos e até pausas para dar mais impacto às cenas.
Elementos expressivos como imitação de vozes de personagens, ruídos de animais, barulhos, expressões faciais e gestos das mãos empregadas, na hora certa, fazem a diferença.
g. Dialogar
Abrir o espaço e o tempo da contação com um diálogo sobre o autor, ou o tema ou até uma pequena introdução que se conecta o projeto da turma pode situar as crianças e capturar o interesse.
h. Envolvimento do grupo
Nem todas as crianças de um grupo estão na mesma sintonia, disposição e estágio de desenvolvimento. Ao introduzir o momento de histórias e leitura, prepare-se para contar para muitas ou poucas crianças.
Apesar de convidar o grupo para a hora da história, é possível que nem todos os pequenos queiram tomar parte da atividade. Por isso, cantos preparados com outros livros ou um jogo de montar são adequados. Ignore as peraltices e conte a historia para os interessados sem perder o fio da meada.
É possível que os “desinteressados” passem a participar observando o interesse do grupo.
Para envolver as crianças no relato você pode:
- Pedir para que repitam algumas frases marcantes
- Emitam sons que são parte do enredo: bater à porta, vento, barulhos de animais, cantar músicas, etc.)
- Convidar a turma a fazer gestos e se mover conforme a cena. Por exemplo, um saci que pula num pé só, um leão feroz com garras, um patinho nadando na lagoa. Um sapo que pula.
- Numa cena importante causar suspense parando a narrativa e perguntando: o que vocês acham que vai acontecer?
i. Contar e recontar
Repetir histórias e cenas queridas favorecem a apropriação, o reconto, a “leitura” e a memorização. Ao longo da semana é importante recontar as histórias preferidas e introduzir os livros novos.
Antes de recontar é possível estimular a oralidade e a organização temporal dos fatos:
1. Qual a parte que mais gostaram?
2. De quem vocês mais gostam? De quem não gostam?
3. O que aconteceu com fulano?
Depois de trabalhar com os personagens e os acontecimentos, conte a história novamente! Nessa etapa do desenvolvimento infantil as histórias podem ser recontadas, em média, três vezes por semana.
"Histórias são parte da humanidade. Milenares, são anteriores à escrita. Transmitem os saberes, preservando a cultura e a memórias. Todos nós experimentamos com prazer esses momentos e percebemos o quanto eles contribuem para o conhecimento de mundo, ampliam as possibilidades criativas e desenvolvem as emoções. Histórias são um capitulo fundamental da infância… em quem sabe, de toda a vida!"
Acesso ao artigo original: Blog Tempo de Creche.
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