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segunda-feira, 10 de julho de 2017

Qual o significado da palavra anátema no Antigo Testamento e para os dias de hoje?

Qual o significado da palavra anátema no Antigo Testamento e para os dias de hoje?


Nos dias atuais o uso do vocábulo anátema, esta quase desaparecido. Gilson Milares de Araras, SP, nos indaga sobre a compreensão e o significado de anátema na literatura bíblica e nos tempos mais recentes. Vale a pena conferir a evolução que o vocábulo anátema recebeu.

Uma visão do significado de anátema na perspectiva bíblica.

Anátema (do latím anathema, e este do grego ΑνÜθεμα) significa etimológicamente oferenda, mas no seu uso principal indica o significado de maldição, no sentido de condenação a ser colocado de lado ou separado, cortado do seu ambiente como se corta um membro, de uma comunidade de crentes.

A palavra Anátema será de certa forma uma sentença pronunciada e mediante a qual se expulsava alguém considerado um “herege” do seio da sociedade religiosa; esta expulsão era considerada uma pena mais grave que a excomunião.

Entretanto seu significado original indicava uma "oferenda" aos deuses gregos. Com o passar do tempo o sentido se alterou e passou a ter um outro significado: aquele de estar formalmente separado, desterrado, exilado, sem comunicação com os outros. E mais ainda em algumas ocasiões foi até mal interpretado com a utilização do significado de maldito.

O significado de Anátema no Antigo Testamento e no Cristianismo

No texto do Antigo Testamento anátema tem o significado de condenação ao extermínio daquelas pessoas ou coisas afetadas pela maldição atribuída a Deus.

Com o Cristianismo, passou a significar "maldito, ou considerado aquele que está fora da Igreja". Tratava-se da máxima punição imposta aos pecadores; não somente de ficam excluídos dos sacramentos, mas também destinados à condenação e ao fogo eterno.

Nos dicionários de Teologia e dicionários Bíblicos percebemos que não é fácil de conseguir uma tradução ótima para o termo "anátema", sobretudo porque recentemente começaram aparecer comentários que voltam a associar um significado benevolo para o termo anátema. O significado original da palavra grega implicava uma "oferenda aos deuses", algo de conotação positiva de acordo aos critérios espirituais da antiga Grécia. Quando a palavra foi usada na Septuaginta (tradução ao grego das Escrituras originais em idioma hebreu), o termo anátema foi usado para traduzir a palavra hebréia "herem":

Qual o significado para “herem” (anátema) no Antigo Testamento

No Antigo Testamento encontramos os seguintes significados para “herem”: como promessa, aquilo que o ser humano consagra Deus. Esta oferta consagrada a Deus não pode ser comprada ou vendida, mas deverá ser entregue a Deus. O texto do livro de Levítico 27,28 nos diz: “Contudo nada do que alguém consagra a Iahweh, por anátema, pode ser vendido ou resgatado, quer seja homens, animais ou campos do seu patrimônio”.

Outro significado para “herem” é o de castigo, sobretudo aquele da idolatria, que poderia ser aplicado a indivíduos ou mesmo cidades inteiras. Vejamos em Ex 22,19 o termo anátema adquire o sentido de castigo “Quem sacrificar a outros deuses será entregue ao anátema” o termo é aplicado a cidades inteiras em Dt 13,13-19 “ deverás passar a fio de espada os habitantes daquela cidade. Tu a (cidade) sacrificarás como anátema, juntamente com tudo o que nela existe”. Pensava-se que os homens e objetos contaminados pela idolatria tornavam-se uma fôrça perigosa e deveriam ser evitados, e pela execução se terminava com tais forças.

Um último significado para “herem” é dado como medida millitar. Esta consistia na consagração da presa e até do território para Deus com a finalidade de obter ajuda de Deus na conquista do inimigo. Vejamos em Núm 21,1-3 “....Consagraram-nos ao anátema, eles e suas cidades”, ou mesmo Jos 6 “...A cidade será consagrada como anátema a Iahweh, com tudo o que existe.” Assim podemos entender o significado de anátema como uma regra de guerra santa, que está cumprindo uma ordem divina, ou um voto para garantir a vitória contra aqueles que se combate. O esquecimento de tal voto será punido severamente.

Portanto anátema é usado para referir-se a coisas oferecidas a Deus e também para referir-se a algo "fora de limites" ou "separado no uso comum ou ordinário"(não religioso). Se constatou que raiz da palavra grega "anátema" com o significado de "oferenda a Deus" foi usada para traduzir a palavra "herem" com seus vários significados. De modo que o significado da palavra grega "anátema", baixo a influência de sua associação com a palavra hebraica "herem", foi eventualmente adotada para dar ideia de "separar". (sendo que 'herem' em realidade tinha outro tipo de conotação: a palavra dava ideia de algo "desterrado" ou "algo considerado baixo o julgamento e condenação da comunidade". Desafortunadamente dentro da língua portuguesa, não se encontram termos afins. Por outro lado, considerar anátema como algo "maldito", em si sugere ocultos poderes e artes mágicas, as quais sempre estiveram proibidas e condenadas no Judeo-cristianismo.

Olhando o uso e o significado de Anátema no Novo Testamento

Tradicionalmente o Novo Testamento entende a palavra anátema como algo que implica deshonra, exclusão e castigo. Em alguns casos um indivíduo pronuncia um anátema sobre sua pessoa se em si mesmo valoriza certas condições inconclusas. O texto de atos dos apóstolos 23,12 confirma e diz: “Quando se fez dia, os judeus se reuniram e se comprometeram, sob anátema, a não comer nem beber enquanto não matassem Paulo”, (Factos 23:12, 14, 21). Ver: (1º Corintios 12:3; Gálatas 1:8, 9). Anátema adquire aqui o sentido de maldição divina se não cumprissem a promessa.

Entretanto, um olhar alternativo a palavra anátema no Novo Testamento foi utilizada inicialmente em relação com seu significado original de “oferecido a Deus”. O apóstolo Paulo dá outro sentido ao vocábulo anátema em Romanos 9,3, passando a ser entendido como “separado de Cristo” excluído da aliança com Cristo, para esta forma de compreensão houveram muitas dificuldades interpretativas. Mostra esta interpretação que o apóstolo não expressa um desejo em si, senão que tenta transmitir um sentimento veemente, mostrando quanto era forte seu anseio de salvação pela sua gente. Ou mesmo se pode dizer que Paulo expressa o desejo de "oferecer-se a Deus" por Cristo.

O apóstolo Paulo em em 1° Corintios 16,22 utiliza a palavra anátema (“Se alguém não ama o Senhor, seja anátema”) afirmando que todos aqueles que não amam ao Senhor são objeto de ódio e repulsa de todos os santos: e são culpados de um crime que merece a mais severa condenação; eles estão expostos à sentença de "destruição definitiva do Senhor”.

Anátema segundo a linguagem da Igreja

A literatura que apresenta o uso do vocábulo anátema na História da Igreja e muito vasta e necessariamente precisa um espaço muito grande para ser exposta e comentada. Nos detemos apenas a ilustrações que possam nos ajudar a compreensão de anátema para os tempos atuais.

Na linguagem da Igreja o anátema aparece no concílio de Elvira, no sínodo de Gangra e são famosos os doze anatematismo aparecendo ainda no Concílio Vaticano I, todos com um sentido de condenação de separação e devem ser interpretados de acordo com os critérios de interpretação teológica de sua época. Nos canônes dogmáticos se refere a qualificação teológica e no Código de Direito Canônico de 1917 se chama de anátema a excomunhão.

Atualmente no Código de Direito Canônico não encontramos sua definição. E também o chamado ritual de excomunhão não está mais incluído no “Pontificale Romanum” posterior ao Concilio Vaticano II. Assim nos dias de hoje, pouco se fala em anátema e na literatura dos livros e rituais oficiais da Igreja foram excluídos. Ora isto é muito bom, pois o trabalho de evangelização e pastoral nas Comunidades adquirem um outro rumo e se direcionam em acolher através do diálogo aqueles que se encontram em dificulddes em sua prática religiosa.Concluindo constatamos que nos dias atuais a interpretação do significado anátema, vai ao encontro desta nova compreensão que a plavra anátema esta recebendo, não mais em um sentido de exclusão, condenção ou de julgamento puro e simples, mas em um sentido de acolha e de insersão nos caminhos do evangelho.

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